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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
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domingo, 28 de dezembro de 2008

Após um começo promissor, diretores podem dar certo (Danny Boyle) ou dar errado (Michael Cimino)...

A estréia de qualquer diretor de cinema traduz uma expectativa. E nem sempre essa expectativa se traduz no nascimento de mais um excelente artesão da 7a arte. Por exemplo: tem gente que consegue a proeza de realizar uma obra prima no seu primeiro trabalho - e nunca mais acerta. Por outro lado, existem diretores que estréiam com filmes excepcionais, demonstrando fescor e criatividade em todos os aspectos técnicos e artísticos - e continuam o bom trabalho daquele ponto em diante. Para ilustrar fracasso e sucesso de diretores considerados promissores em seus trabalhos de estréia, vamos destacar Michael Cimino e Danny Boyle.

Michael Cimino (foto acima) estreou em 1974 com uma comédia muito da xinfrin chamada THUNDERBOLT and LIGHTFOOT (nem queira saber do que se trata, please). Contudo, sua grande estréia mesmo, aquela que prometia o nascimento de uma estrela na direção, aconteceu em 1978 com um drama brilhante sobre a guerra do Vietnam chamado THE DEER HUNTER (http://www.imdb.com/title/tt0077416/combined).
O filme apresentou ao mundo Meryl Streep (todo mundo sabe quem é, né?), John Cazale (aquele irmão traidor que o Al Pacino matou no 2o filme da famosa trilogia THE GODFATHER), Christopher Walken (um ator topo de linha, facilmente encontrado em diversos filmes de qualidade) e John Savage (esse veio, viu e sumiu), entre muitos outros, e já incluia um Robert DeNiro em plena ascenção. Não é pouco não, hein. É aquele filme da brincadeira enervante da roleta russa, com mais de 3h de duração.

Abocanhou 5 Oscars naquele ano, além de inúmeros outros prêmios por festivais afora. Um sucesso.

Falando de um tema muito incômodo ao american way of life, a fotografia de Vilmos Zsigmond (egresso dos filmes de Bergman) e a pauta musical de Stanley Myers (inesquecível) empacotavam um grupo de excelente interpretações, guiadas por uma direção muito inspirada. O filme é realmente muito bom e, talvez, um dos mais marcantes sobre o tema guerras inúteis e seus efeitos na sociedade. A tal cena da roleta russa no campo de prisioneiros é antológica e permanece uma das mais bem filmadas e editadas na história do cinema mundial. Assim como as belas cenas de caça de alces nas montanhas verdes e enevoadas dos USA em contraste com as cenas chocantes de guerra (porcos comendo restos de humamos despedaçados por bombas).

Resultado: para a imprensa americana da época, um ser divino havia nascido. Teceram quilômetros de elogios ao novato, tocando trombetas pela chegada do "gênio". E a expectativa? Qual seria o próximo filme de Michael Cimino.

E esse filme veio em 1980. HEAVEN´S GATE (http://www.imdb.com/title/tt0080855/), título nefasto, arrasou com o studio que o produziu. A United Artists registrou sua ruína financeira com esta bomba. Imagine um filme chato. OK? Esse é bem mais. É um western longo (mas muuuuuuito longo) sobre uma disputa de terras no estado de Wyoming em 1890 que realmente ocorreu. Custou o equivalente a US$120 milhões em 2006 e fez o equivalente a US$ 3 milhões nos USA. Bomba. Baú sem alça - e cheio.

Bem, vamos colocar a coisa da seguinte forma: se o filme retratou bem o que historicamente ocorreu na época, os verdadeiros protagonistas do fato histórico devem ter morrido de tédio. Mas, faleceram, todos, muito elegantemente bem vestidos, inseridos em cenários milionários (a famosa cena do casamento dizem que custou uma fábula) e acompanhados de cast estrelar.

Embarcaram nesta canoa furada Kris Kristofferson (ex-marido de Barbra Straisand e notório canastrão de plantão), Christopher Walken (dispensa comentários), Isabelle Huppert (a francesa estava em ascenção nos USA na época), Jeff Bridges (o irmão mais talentoso de Beau), John Hurt (o primeiro Alien saiu de dentro do estômago dele, lembra?), Sam Waterston (da fama de THE KILLING FIELDS), Brad Dourif (participou do LORD OF THE RINGS recentemente e foi o bandido demoníaco de CHILD´S PLAY), Joseph Cotten (excelente ator de renome, já em fim de carreira), Mickey Rourke (desfigurado fisicamente hoje em dia e brilhando em THE WRESTLER no festival de Cannes deste ano) e Willem Dafoe (em seu primeiro filme).

Cimino esperou mais de 3 anos para dirigir seu próximo filme. THE DESPERATE HOURS (http://www.imdb.com/title/tt0099409/), um remake eficiente (!) de um clássico de 1955 sobre presidiários em fuga e familia modelo sequestrada, estrelou - advinhou - Mickey Rourke e Anthony Hopkins (ele mesmo, o canibal). Amargando mais 6 anos de absolutamente nada para dirigir, em 1996, apareceu com THE SUNCHASER (http://www.imdb.com/title/tt0117781/), uma coisa insuportável sobre um sequestro de tons edificantes e Woody Harrelson na frente. Em 2009, 12 anos depois, reza a lenda que Cimino irá lançar MAN´S FATE, sobre europeus na Shangai de 1923. Ok. Vamos desejar boa sorte ao homem. Afinal, sempre haverá esperança para quem um dia dirigiu THE DEER HUNTER.

Um antônimo de Michael Cimino chama-se Danny Boyle. Esculpido na TV britânica, Boyle é um diretor que arrisca. Sua estréia causou impacto. E impacto ele vem causando desde então. O excelente filme de suspense (?) SHALLOW GRAVE (obtenha mais informações no link http://www.imdb.com/title/tt0111149/), de 1995, deixou crítica e publico de boca aberta. A bem humorada, irônica história macabra de 3 amigos que, morando juntos num ap em Londres, resolvem alugar mais uma vaga a um sujeito que acaba aparecendo morto com uma mala cheia de dinheiro, revelou ao mundo um diretor antenado com o comportamento humano de seu tempo.

Com performances imbatíveis por um elenco afiado, até então desconhecido, incluindo um promissor ator de nome Ewan McGregor (fez vários filmes com Boyle), Danny Boyle narrou com estilo renovador e precisão cirúrgica uma saraivada de traições, equívocos e inesperadas reviravoltas entre os supostos amigos inseparáveis, submetendo a hipócrita sociedade do "o que importa é rapidamente se dar bem, não interessa o custo" a um exame microscópico sobre ética, amizade, lealde e autruismo nos tempos de hoje. E foi mazela para tudo o que é lado. A série de entrevistas dos pretendentes a tal vaga no apartamento vale por si só uma visita a este filme.

Na época, a imprensa não poupou elogios e anunciou o nascimento de um diretor promissor. E não é que Danny Boyle deu certo! São dele, entre outros, os filmes TRAINSPOTTING (Ewan McGregor as voltas com drogas pesadas, na cena antológica do mergulho na privada, numa Londres marginalizada), A LIFE LESS ORDINARY (Ewan McGregor as voltas com o sequestro hilário de Cameron Diaz), THE BEACH (DiCaprio perdido no paraíso), 28 DAYS LATER (zumbis mandando ver no fim do mundo em Londres), MILLIONS (sobre um guri inspirado que acha milhões de libras dias antes da virada para o euro) e SUNSHINE (curioso exercício de ficção científica sobre o Sol acabando com tudo).

A maioria (se não todos) dos filmes de Boyle se destaca pelos seus roteiros. A parceria com o escritor John Hodge começou no filme de estréia e durou até THE BEACH. São roteiros inovadores, cheios de comentários sociais sobre o nosso tempo e o comportamente pouco elogiável da humanidade que o povoa, onde cenas completamente silenciosas (e isso é muito comum nos filmes de Boyle) traduzem milhares de palavras em texto. A partir de THE BEACH, filme caro, com externas complicadas nas praias paradisíacas da Tailândia, e que não correspondeu aos seus altos custos na bilheteria, John Hodge seguiu caminhos diferentes de Boyle. Uma pena.

O mais recente filme de Boyle, SLUMDOG MILLIONAIRE (veja mais informações no link http://www.imdb.com/title/tt1010048/) , lançado este ano, não foge a regra (apesar de John Hodge não ter participado). Está sendo considerado pela crítica como o seu melhor trabalho até hoje. Contrariando toda a fórmula padrão de lógica de sucesso comercial, Boyle filmou uma história nas favelas da Índia, com (muitos) atores locais (e com vários atores fazendo o mesmo papel em épocas distintas), falando sobre um fato curioso da cultura pop da Índia e destilando comentários, durante 2h de projeção, sobre as condições sociais das várias Índias que existem dentro da Índia principal. Resumindo: tinha tudo para dar errado. Não deu não. Acertou em cheio.

O fato pop que rege a trama é o sucesso de Jamal, um adolescente de origens muito humildes, egresso das piores concentrações de pobreza da Índia, quando se torna finalista de um jogo televisivo de perguntas e respostas muito popular no país. Respondendo, de modo surpreendente e preconceituoso para todos, corretamente as respostas do apresentador, Jamal ganha uma fortuna. Contudo, seu interesse é na bela Latika, paixão desde os tempos de moleque. E por ela, Jamal coloca em jogo sua vida e seus milhões.

As respostas das perguntas do programa de TV formam a estrutura do roteio. É através destas respostas que a vida de Jamal será contada. A razão porque Jamal sabia de cada resposta é a chave mestra do filme. Um achado, usado de forma muito criativa, que prende a atenção.

SLUMDOG MILLIONAIRE é um hino ao destino, aos pré-destinados. Defende, com muito humor e emoção, a tese de que uma pessoa vencedora nasce - não é feita aos poucos - e pode vir de qualquer lugar. Não interessam os obstáculos a sua frente, as dificuldades de origem e as artimanhas de outros para impedir o seu sucesso em todos os aspectos da vida. Um indivíduo pré-destinado ao podium conquistará, eventualmente, este podium, pois seu destino já foi traçado.

E LEIA ANTES aqui, ou voce nunca vai ficar sabendo que Michael Cimino e Danny Boyle são antônimos. Enquanto Michael Cimino é " esquecido" pela obra prima THE DEER HUNTER, Danny Boyle continua a inovar desde SHALLOW GRAVE. E veja SLUMDOG MILLIONAIRE, muito provavelmente, um dos melhores filmes de 2008.

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