
Um drama de ação sobre senso de justiça e preservação da honra em tempos de imbecilidade extrema da raça humana, THE DUELLISTS (http://www.imdb.com/title/tt0075968/) é passado no início do século 17, na França, durante o período mais grandioso das guerras napoleônicas. Ganhou notoriedade e fama quando abocanhou o prêmio de Best First Work no festival de Cannes de 1977, revelando ao mundo um jovem diretor que iria escrever história anos depois. Veja o trailler em http://www.youtube.com/watch?v=g8nGgvepXCk .

Dois oficiais do exécito de Napoleão, interpretados magistralmente pelo sempre excelente Harvey Keitel e o competente ator Keith Carradine (esse anda sumido, mas foi muito popular na década de 70), se acham aprisionados em um duelo particular sem fim, que atravessa o tempo por décadas, devido a um deles entender ter sido insultado pelo outro. Desafiado, Armand (Carradine) se vê obrigado a duelar com Gabriel (Keitel) até que um deles caia morto e vencido.
Contudo, por alguma estranha razão, todo duelo que começa (e são muitos) nunca termina. Há sempre algo para atrapalhar o desfecho de cada embate, postergando o acerto de contas para uma outra oportunidade. Sempre que Gabriel encontra uma chance, e o destino trama para que as chances sejam muitas, recomeça a batalha pessoal entre os dois, transformando o que era um rápido e simples acerto de contas numa obsseção desenfreada interminável e, a partir de dado momento, sem qualquer propósito. Armand, mais consciente do ridículo da situação, vê sua vida inteira ameaçada pela insanidade de Gabriel, passando a evitar, sem muito sucesso, o início de mais um confronto atodo instante. A partir de certo momento, ambos não sabem mais porque estão duelando, mas continuam assim mesmo.

O filme é irrepreensível em todos os aspectos. O roteiro é ágil, dinâmico e impulsiona um duelo para o outro naturalmente, criando um clima de ação, sem quaisquer recursos de efeitos especiais, de fazer inveja aos filmes atuais do gênero. Existem inúmeros duelos no filme - e nenhum deles é entediante ou parece ser a mais nas quase 2h de projeção. Cada duelo parece ser algo novo, revelador de alguma faceta da trama ou característica de algum
personagem que servirá para compôr o vingativo mosaico de sentimentos que encobre as atitudes dos dois oficiais. A excelente montagem, a cargo de Pamela Power, é a chave do entrelaçar fluido de todas as cenas e situações.

A narração em off não parece deslocada aqui. Tem gente que discorda e insiste ter sido feito dos produtores (visto que isso ocorreu em BLADE RUNNER anos depois). Mas, o filme é um conto - e um conto muito bem contado de um aparente evento histórico que realmente aconteceu. E assim é colocado para a platéia. Acredito que, no caso, a não muito unânime narração em off (a cargo da voz do ator Stacey Keach) empresta maior veracidade ao que realmente ocorreu - se é que tudo não passou de uma lenda urbana da época.
A pauta musical é original e antológica. Não dá para pensar neste filme sem a música que o embala. Howard Blake conseguiu uma união perfeita entre música e ação, raramente vista no cinema (lembra THE GO-BETWEEN de Joseph Losey). A fotografia de Frank Tidy, casada em comunhão de bens com a Direção de Arte de Bryan Graves e os figurinos de Tom Rand, faz de todos as cenas, externas ou internas, verdadeiras pinturas da época. Faz lembrar BARRY LYNDON, de Stanley Kubrick. O contraste da filmagem a luz da manhã (a chamada golden hour) com o verde forte das paisagens e o vermelho, azul, cinza e dourado dos uniformes dos oficiais cria cenas de tirar o fôlego para uma produção de menos de US$ 1 milhão (bons tempos...).
O elenco é fenomenal. Além de Keitel e Carradine, temos um jovem Albert Finney, o excelente Edward Fox, a bela Cristina Rainnes (por onde será que anda essa senhora?), Tom Conti (da fama oscarizada de Rubeun, Rubeun), e muitos outros atores britânicos em destaque na época. Foi um festival de excelentes interpretações e é a força motriz do filme.

A direção do novato Ridley Scott já exibe aqui sinais de suas caracterísitcas pessoais, as quais iriam ser aprimoradas, com o decorrer do tempo, em seus trabalhos futuros: a preocupação acentuada com a técnica; o detalhismo com a estética da imagem, presente em todos os seus filmes sem exceção; a fotografia em união inseparável com a música; o clima de ação em cenas cujo conteúdo não se empresta a tal dinâmica (quantas formas existem de filmar um duelo de espada e manter a coisa toda nova e excitante a cada cena?) e uma narrativa cênica que mantém o espectador advinhando o final - e que final!
É um debut para ninguem botar defeito. Uma pequena grande obra. E não é que o homem deu certo mesmo? Os filmes de Ridcley Scott incluem, além dos aqui mencionados ALIEN e BLADE RUNNER, o Oscarizado THE GLADIATIOR (Russel Crowe de saias se vingando de Joaquim Phoenix); a inesquecível parceria de Susan Sarandon & Geena Davis em THELMA & LOUISE (Harvey Keitel está nesse e Brad Pitt estreou no cinema justamente aqui); BLACK RAIN (para muitos, um hino de ódio ao Japão, com Micheal Douglas); THE KINGDOM OF HEAVEN (um longo, hiper bem produzido, mas nem sempre interessante passeio na história com Orlando Bloom); e, recentemente, AMERICAN GANGSTER (com Denzel Washington e Russel Crowe) e BODY OF LIES, com Leonardo Di Capprio, em cartaz atualmente no Brasil. Uau! Cannes tinha razão... (ele fez umas bombas também, mas eu não vou falar...ah, depois eu conto...).

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